Crônicas

UM ECLIPSE FURTIVO!

Luiz Augusto L. da Silva*

            No final da tarde de 30 de Abril de 2022 vai acontecer um eclipse solar parcial. A região geográfica de visibilidade deste fenômeno abrange o sul da América do Sul, parte do Oceano Pacífico, e parte do litoral antártico. (veja a Figura 1). Em nenhum ponto desta região o eclipse será total, porque o cone de sombra lunar “erra” a superfície do globo terrestre, que é varrida apenas pelo cone de penumbra.

            O ponto de eclipse parcial máximo fica situado na latitude 62o 06′ 58.9″ S e na longitude 71o 28′ 44.3″ W. Este ponto fica no oceano, na Passagem de Drake, a meio caminho entre o extremo sul da América do Sul, e a extremidade da Península Antártica. Ali, 64% do diâmetro solar poderá ser visto encoberto pela Lua, correspondendo a um obscurecimento de 54.19% da área do disco.

Limite

            O interessante deste eclipse é que a linha limite da região de visibilidade atravessa o estado do Rio Grande do Sul, no extremo meridional do Brasil, sentido sudeste para noroeste, aproximadamente numa linha reta que conecta as cidades gaúchas de Caçapava do Sul, Santa Maria, no centro do estado, e Santo Ângelo, na região das Missões, prolongando-se em direção à Argentina.

Fig. 1 – A região geográfica de visibilidade do eclipse solar parcial de 30 de Abril de 2022. Crédito da Imagem: TimeandDate.com.

            A oeste desta linha o eclipse será perceptível como uma sutil indentação escura na borda solar, durante o por do Sol. Cidades situadas a leste daquela linha não verão eclipse nenhum! É o caso de Porto Alegre, e de outros municípios, como Caxias do Sul, Passo Fundo, São Sepé, Pelotas e Rio Grande.

            Na tabela abaixo fornecemos as características da fase máxima visível do eclipse, para diversas cidades dentro da região de visibilidade. Nela temos o instante de início do eclipse, a hora local do por do Sol, a magnitude do eclipse e o obscurecimento do disco solar naquele momento. A magnitude é a fração do diâmetro solar atingida pela Lua, enquanto o obscurecimento refere-se ao percentual da área do disco solar eclipsada.

            Verifica-se que os percentuais são extremamente baixos, em virtude da grande proximidade geográfica à linha limite de visibilidade do fenômeno.

Fig. 2 – A trajetória do limite da região de visibilidade do eclipse solar parcial de 30 de Abril de 2022 através do estado do Rio Grande do Sul. A oeste da linha tracejada o eclipse será marginalmente perceptível. A leste, não. Imagem: Google Maps, adaptada pelo autor.

            A melhor cidade do Rio Grande do Sul para ver o eclipse será Barra do Quaraí, localizada no extremo oeste do estado, junto às fronteiras com o Uruguai e a Argentina. Ali, o eclipse começa às 17h56min, e o Sol se põe às 18h15min, com 14.57% do diâmetro eclipsado, correspondendo a um obscurecimento de 6.44% da área do disco solar.

Passado e Futuro

            O eclipse do próximo dia 30 lembra aquele que aconteceu em Porto Alegre no meio da tarde de 22 de Agosto de 1979. O eclipse foi anular ao longo de uma faixa que cortou a Oceania, o sul da América do Sul, e parte da Antártida. Naquela ocasião, a capital gaúcha estava situada bem próxima ao limite norte da região de visibilidade. A magnitude máxima foi de apenas 0.019 às 15h42min, o que correspondia a cerca de 2% do diâmetro solar eclipsado. Em Pelotas, 7.5% do diâmetro do Sol foi coberto pela Lua, alcançando 7.9% em Uruguaiana.

            Por enquanto, o último eclipse solar visível em Porto Alegre até agora foi parcial, em 14 de Dezembro de 2020, tendo a sua visibilidade bastante prejudicada pela presença de nebulosidade. O próximo também será parcial, durante a tarde de 14 de Outubro de 2023, com obscurecimento máximo de 17.5% do Astro Rei.

            Eclipse solar total na capital gaúcha só mesmo em 08 de Janeiro de 2103! Veja, a respeito, a coluna Túnel do Tempo, do Portal Ciência & Cosmos, no site da Rede Omega Centauri (www.redeomegacentauri.org).

Precauções

            É importantíssimo alertar para o perigo de se olhar diretamente para o Sol sem proteção ocular adequada, mesmo que seja durante o por do Sol. Binóculos e telescópios não devem ser usados sem filtros especiais seguros e supervisão competente (preferencialmente de um astrônomo profissional, ou amador experiente). Também não se recomenda o emprego de radiografias ou óculos escuros para olhar para o Sol.  O risco de lesões oftálmicas sérias é grande, não por causa do eclipse em si, mas por causa do brilho excessivo do Sol.

            Entre as técnicas seguras recomenda-se projetar a imagem do Sol numa parede próxima, usando para isto um pequeno espelho recoberto de papelão onde se faz um orifício do tamanho de uma moeda de dez centavos, ou então um vidro de máscara de soldador número 14, muito fácil de achar nas ferragens, a baixo custo. Porém, dependendo da cidade, a visualização deste eclipse poderá ser difícil sem a ajuda de um telescópio. Como regra geral, quanto mais para o oeste, melhor será a visualização do fenômeno.

———-

*Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo, e desde 1973 deixa-se fascinar por eclipses.

(www.luizaugustoldasilva.com)

PRESTIGIE E COLABORE COM O PORTAL CIÊNCIA & COSMOS!

O acesso ao material  disponibilizado neste Portal não requer pagamento de assinatura. Mas, por favor, considere a possibilidade de fazer uma doação, esporádica ou regular. Deposite o valor escolhido no Banco Caixa Econômica Federal (Banco 104), Agência 0522, Operação 013, Conta 39.594-3, CPF 502813720-04. Por exigência estatutária da Rede Omega Centauri, parte da sua doação será encaminhada para entidades filantrópicas que cuidam de pessoas ou de  animais abandonados. Obrigado!

You must be logged in to post a comment.