Fenômenos Incomuns - Núcleo AIFI

O PROBLEMA FUNDAMENTAL COM A UFOLOGIA

Luiz Augusto L. da Silva*

            Os Fenômenos Aéreos não Identificados (FANIs) estão voltando à moda. A época de glória entre 1947 e os anos 1980 já pertence ao passado. Com a Guerra Fria há muito ida, o tema entrou em declínio. Nem mesmo o advento dos modernos smartphones com suas câmeras digitais cada vez mais sofisticadas serviu para recuperar o glamour da questão.

            Mas parece que alguma coisa mudou em anos recentes. Principalmente após  o Pentágono e outros governos haverem reconhecido publicamente que possuíam registros da ocorrência de fenômenos ainda não explicados, testemunhados por pessoal supostamente qualificado do ponto de vista técnico, como pilotos militares, por exemplo.

            A temática dos OVNIs voltou a ocupar espaço na mídia, e a seduzir de novo a opinião popular. Analisando os comentários postados em diversos vídeos sobre o assunto nos quais o autor teve participações recentes, constata-se uma tendência nítida a recusar explicações racionais, comuns, descartando-as em prol de teses de caráter mais fantástico. De repente, aqueles que seguem com rigor a metodologia de investigação científica viram alvo de chacotas, até de ofensas. Ceticismo virou sinônimo de negacionismo.

            “Impossível crer que somos os únicos neste Universo tão vasto”, dizem muitos, então os “discos voadores” devem ter origem extraterrestre. Esta tese é furada. Completamente furada. Podem existir, sim, inúmeras civilizações dentro do raio do universo observável, mas isto não implica, absolutamente, que estejamos recebendo visitas delas aqui na Terra hoje. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É claro, para que os discos voadores sejam extraterrestres autênticos, devem existir outras civilizações no cosmos. Mas a simples existência daquelas civilizações não implica no caráter alienígena dos discos voadores.

Investigação

            Recentemente, por ocasião do aniversário de 40 anos, re-investigamos o famoso caso brasileiro do voo VASP-169. Este estudo permitiu, talvez pela primeira vez em quatro décadas, compreender exatamente o que muito provavelmente aconteceu com os passageiros e com a tripulação da aeronave naquela noite. A nova pesquisa corroborou a hipótese de que o “objeto” avistado naquela ocasião era muito provavelmente o planeta Vênus. Confirmou, também,  a necessidade de uma miragem óptica superior para explicar a antecipação do horário de nascimento do planeta. E mostrou que a condição atmosférica anômala que deu origem à miragem não teve nada a ver com o eco de radar captado pelo CINDACTA próximo à aeronave. Mostramos que os passageiros viram e fotografaram coisas muito diferentes e que, portanto, não deveria existir nada  extraordinário a chamar a atenção no lado de fora do avião, além de Vênus que, entre os primeiros sinais do clarear do dia, se escondia intermitentemente entre as nuvens. O estudo completo, na forma de dois artigos que totalizam 85 páginas, está disponível no formato PDF, e pode ser baixado no site da Rede Omega Centauri.

            Mas um certo site na Internet afirma ter “derrubado” nossa pesquisa, a qual “não se sustenta”… Analisando o material daquele portal, encontramos no mínimo 45 erros ou distorções, os quais, por si só, invalidam por completo a contra-argumentação apresentada.

O Xis da Questão

            Os ufólogos costumam lembrar de Fenômenos Aéreos não Identificados que apresentam performances dinâmicas peculiares, tais como acelerações súbitas e exageradas, ou curvas em ângulo reto. Afirmam que tais proezas estão além da nossa capacidade tecnológica e que, portanto, como não se pode explicá-los e não temos ideia do que possam ser, então devem ser de origem extraterrestre.

            Mas aí está o problema. Se você vê algo que não conhece e não consegue explicar o que seja, não pode, de maneira nenhuma, concluir que se trata de tecnologia alienígena. Procedendo assim, já afirmamos outras vezes, você estará incidindo numa falácia filosófica conhecida como “arguição a partir do desconhecido”, isto é,  estamos querendo obter conclusões específicas a partir de algo que desconhecemos e nem sabemos do que se trata.

ET no jardim: crença na presença de seres alienígenas na Terra hoje vem recrudescendo. Imagem: L. A. L. da Silva/ROC

            É por isso que a ufologia se comporta como pseudociência. Inexplicado não significa extraterrestre. Por isso também, que nenhuma ocorrência dita “ufológica”, por mais intrigante e bem documentada que possa ser, servirá como evidência científica cabal e consensual da presença de naves extraterrestres em nosso planeta hoje. A melhor maneira de atingir este objetivo seria a comunidade mundial de cientistas ter acesso a um autêntico veículo espacial alienígena, e a seus eventuais tripulantes, para garantir uma investigação realmente completa, imparcial e conclusiva.

Teorias de Conspiração

            Dirão os ufófilos: isso já aconteceu! Só que foi acobertado. Lembram-se de Roswell? E da Área 51? Os governos conhecem a verdade, mas a escondem. E por que fariam isso? Certamente por razões de interesse estratégico, e também por medo de um colapso social.

            Sim, meus amigos. Este é o único aspecto onde as teses conspiratórias têm razão. O perigo de uma desestruturação geral da civilização existiria, sim. Um contato eventual da humanidade com uma raça alienígena altamente evoluída com certeza colocaria em cheque todas as crenças religiosas, econômicas, e políticas que servem de base sustentatória do modelo atual da civilização humana. Imaginem quais poderiam ser as consequências se seres alienígenas declarassem nunca ter ouvido falar em Alah, ou Jesus Cristo. Com certeza eles também achariam absurda a extrema devoção dos “sapiens” a uma invenção chamada dinheiro, principalmente quando nossa sociedade enfrenta tantos problemas reais graves a ameaçar a sua sobrevivência.

            Mas teses conspiratórias são boatos. Se não continuarem sendo, deixarão de existir. E ciência, lembramos, não se faz com boatos, e sim com fatos. Não há nenhuma dúvida de que, certos governos ocultariam evidências, se tivessem acesso a elas de verdade, e justo pelas razões mencionadas acima. Isto é fato. Mas o concreto acaba por aí. Portanto, teorias conspiracionistas nada acrescentam. Explicações racionais podem ser muito menos atraentes que teses fabulosas, mirabolantes. Mas possuem valor muito maior que estas últimas.

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* Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo, e presidente do Conselho Curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica. Até que evidências extraordinárias estejam amplamente disponíveis, continuará sendo cético em relação à hipótese extraterrestre como explicação válida para os FANIs.

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