Túnel do Tempo – Memórias de um Astrônomo

Há 41 Anos… O ECLIPSE SOLAR PARCIAL DE 10 DE AGOSTO DE 1980

            Naquela data, o Brasil inteiro pôde assistir a um eclipse parcial do Sol, enquanto que, numa privilegiada faixa do Mato Grosso do Sul e do norte do Paraná, observou-se o fenômeno em sua máxima grandeza, isto é, como um eclipse anular.

            Em Porto Alegre, o eclipse cobriu quase 75% da área do disco solar, podendo ser acompanhado até o por do Sol, às 17h57min (horário de Brasília). Ele foi visto por quatro equipes de astrônomos amadores integrantes da Sociedade Astronômica Riograndense (SARG). Juntamente com os colegas Roberto André dos Santos, Alceu Félix Lopes, Gilberto Klar Renner e Ricardo Holmer Hodara, nos deslocamos para o alto do Morro da Polícia, também conhecido como Morro da Embratel, nomes informais do Morro da Glória, na zona leste de Porto Alegre. Com uma cota máxima de 287 metros de altitude, ele abrigava, na época, 3 antenas de transmissores de televisão, uma da Embratel, outra da TVE, emissora estatal do Rio Grande do Sul, e a maior delas, pertencente à TV Difusora (hoje TV Bandeirantes). Nos instalamos no terraço desta última, junto à base da mesma, tendo sido gentilmente recebidos pelo casal Wilson e Íris Kirinus, operadores de transmissão e zeladores responsáveis pelo local. Ali, com um horizonte livre em todas as direções, montamos nossos instrumentos e nos preparamos para observar e fotografar o eclipse.

            Era domingo. O dia amanheceu promissor: céu limpo, Sol a brilhar, em que pesasse a presença de ligeira névoa dispersa pelo ar. Na imprensa, os jornais comentaram alguma coisa sobre o fenômeno. Porém, por volta do meio dia, uma perturbadora camada de altocumulus tomou conta do céu. O tempo permaneceu fechado até cerca das 14 horas, quando começou a abrir de novo. Às 15 horas, o Sol já brilhava novamente.

Sargueanos preparando-se para acompanhar o eclipse solar parcial de 10 de agosto de 1980. Da esquerda para a direita, Ricardo Holmer Hodara (hoje psicólogo), Gilberto Klar Renner (hoje produtor no Planetário José Baptista Pereira, da UFRGS, em Porto Alegre), e Roberto André dos Santos (biólogo, e vice-presidente da Rede Omega Centauri). Fotografia: Alceu Félix Lopes/SARG.

            Enquanto montávamos os equipamentos, grandes massas de nuvens voltaram a aparecer. Por sorte, exatamente no instante do primeiro contato, uma brecha de céu aberto permitiu a sua cronometragem. Usei meu já então veterano telescópio refrator de 60 mm de abertura, com o método de projeção, e o sinal horário transmitido pela Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para iniciar o cronômetro. Ricardo Hodara foi meu cronometrista. Observamos o início da fase parcial às 16h54min58s (horário de Brasília), 22 segundos a mais em relação ao horário listado no Anuário Astronômico do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP. Em seguida, anotamos as condições meteorológicas no local: temperatura de 23o C, umidade relativa do ar 60%, vento fraco, de sudoeste, e presença de nebulosidade variável.

            Nosso colega Alceu fotografava o evento, a intervalos regulares de tempo. E pode-se dizer que as nuvens até ajudaram, em determinados momentos, permitindo a obtenção de belas imagens do sol eclipsado por entre elas, uma das quais reproduzimos aqui nesta coluna.

Cortado por nuvens, achatado e deformado por miragens, um preguiçoso crescente solar vai morrendo sobre as águas serenas do Lago Guaíba, no fim de tarde em Porto Alegre, aos 10 de agosto de 1980. Crédito da imagem: Alceu Félix Lopes/SARG.

            Naquele dia, vivenciei meu segundo eclipse solar. O primeiro tinha sido quase um ano antes, no meio da tarde morna de 22 de agosto de 1979 quando, por trás de uma camada semi-transparente de cirrostratus, uma fração ínfima da borda solar resultou eclipsada, em razão de Porto Alegre achar-se muito próxima à linha limite norte da zona de parcialidade. O maior espetáculo da Terra (um eclipse solar total) eu veria pela primeira vez 14 anos depois,  em 3 de novembro de 1994, no oeste de Santa Catarina.

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*Luiz Augusto L. da Silva é astrônomo, e desde 1973 tem predileção especial por eclipses do Sol e da Lua. (www.luizaugustoldasilva.com)          

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