Opinião

NOJO DE RELIGIÃO

Luiz Augusto L. da Silva *

Não deveriam as crianças aprender o pensamento crítico e cético desde tenra idade? Não deveríamos ser ensinados a duvidar, a pesar a plausibilidade, a exigir provas?
Richard Dawkins

Fome de Saber, 2013, Companhia das Letras, SP.

            Tenho nojo de religião. Qualquer uma. Tenho nojo de todas. Religião só ilude, engana. Nunca ajudou ninguém. Pelo contrário: religião mata. Consultem os anais históricos para encontrar abundantes exemplos. Religião destrói. Religião aniquila. É psicopatologia social. Ética e fraternidade não justificam religião. Deveriam existir sem ela. E podem existir. São, de fato, independentes!

Exemplos

            Veja-se, a título de ilustração, o fanatismo do grupo Estado Islâmico, autor de atentados terroristas e atos de violência. Lembram da Al Qaeda, e do 11 de setembro? No ano passado, o mundo assistiu pelas lentes da Associated France Press ao castigo absurdo de uma mulher que foi açoitada com cem chibatadas de varas de vime em praça pública, na cidade de Jantho, província de Aceh, na Indonésia. O crime? Ter feito sexo antes do casamento… E um mês depois, na França, o professor Samuel Paty foi cruelmente executado. Tudo isso em pleno século XXI! – como escreveu o jornalista Rodrigo Lopes, em sua coluna em um periódico de grande circulação aqui no sul do Brasil.

            O que dizer da discriminação ostensiva do machismo extremado ainda hoje defendido à raiz dos cabelos pelo judaísmo? Ou da história – sem pé nem cabeça – cerne do cristianismo, que ao deturpar a belíssima mensagem de um homem verdadeiramente esclarecido, um filósofo extraordinário chamado Jesus, o condenou à morte na cruz, inventando paralelamente o mito ridículo de que tal acontecimento era de fato necessário para “salvar a humanidade”? Como se o deus todo poderoso, suposto criador do céu e da terra, onipresente e onisciente, tivesse a necessidade de submeter a vida de seu próprio filho (filho?!) ao sacrifício fatal de um ritual selvagem de sangue, tortura e morte, para conseguir o perdão para um pecado cometido por Adão e Eva que, é claro, nunca existiram… Vocês acham mesmo que um ser hipotético, com capacidade para projetar e dar origem a todo um universo, ia se preocupar com babaquices de tão minúsulo calibre?

            E os sacrifícios de animais? Tristes, trágicos e cruéis. Totalmente desnecessários. E a desconfiança, e até mesmo rejeição da ciência, promovida por cristãos evangélicos, a maioria protestantes conservadores e pastores fundamentalistas de direita, pessoas que consideram vacinas como as “marcas da Besta”? Ridículo!

            Odeio religião. Meus amigos, e minhas amigas, a verdadeira salvação para nosso planeta e toda a sua carga viva passa pela Educação, que leva ao desejo da aquisição científica de conhecimento, e ao comportamento norteado por elevado nível ético. A salvação não reside nos templos, mesquitas ou igrejas. Ali só vicejam a ignorância e a irracionalidade. A luz do esclarecimento transita pelas escolas, pelas universidades, pelos laboratórios e centros de investigação científica, pelos observatórios astronômicos e pelos aceleradores de partículas, produtores e disseminadores de conhecimento.

Brasil

            Está aí a pandemia fora de controle do coronavírus, assombrando o resto do mundo, culpa em grande parte da inépcia deliberada de um governo federal representado por um genocida doente mental, omisso e inconsequente, “Messias” eleito com considerável apoio e influência da ala das chamadas “igrejas evangélicas”. Inimigo da ciência. Defensor do lema “Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos”. Porque não complementar logo: “e o Dinheiro acima de Deus!”?!

            Sim, porque, falando francamente, como já escrevemos em uma oportunidade anterior, todos os deuses que andam por aí foram obviamente inventados para atuarem como lacaios daquele que é o deus maior universal, o deus Dinheiro. Em sua honra, todos os dias, direta ou indiretamente,  pessoas e animais são imolados mundo afora, cumprindo as regras arbitrárias de um jogo macabro chamado economia, em nome do injusto e sagrado meme do lucro.

            No hall de entrada da sede de uma grande empresa incorporadora de imóveis li, certa vez, estarrecido, a frase que dizia – curta, franca e direta – “nada substitui o lucro”… Este é o dogma maior – e absoluto –  que subjaz à sandice humana. O rolo compressor de um sistema que a tudo e a todos atropela em proveito dos seus interesses, sempre mais e mais, sem nenhuma previsão de limites. Com sofreguidão infinita. Sem dó, nem piedade. Sem o mínimo retrocesso. Sem jamais vacilar. E que vai nos conduzir à sepultura, tal qual um câncer, que mata a seu próprio organismo hospedeiro. Como observou certa vez o explorador norte-americano de origem escocesa John Muir (1838 – 1914) “nada que é passível de ser transformado em dólares está a salvo”. A religião do Dinheiro é a pior de todas as religiões.

            Confesso, mais uma vez, que tenho nojo de religião. E terminarei esta breve crônica inflamada de hoje desabafando, pela terceira vez, em alta voz, bom tom, e com todas as letras, assinando embaixo: eu tenho nojo de religião! Este é meu princípio. E não venham me dizer que sou radical, ou que estou exagerando.

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* Astrônomo, presidente do conselho curador da Rede Omega Centauri para o Aprimoramento da Educação Científica.

www.luizaugustoldasilva.com

20210423

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