Fenômenos Incomuns - Núcleo AIFI

A NOVA ERA DOS FENÔMENOS ANÔMALOS NÃO IDENTIFICADOS

Luiz Augusto L. da Silva*

            Estamos vivendo um tempo novo na velha história dos “discos voadores”. E tempos modernos exigem nomenclaturas modernas! A surrada sigla UFOs (em inglês, Unidentified Flying Objects, ou Objetos Voadores Não Identificados – OVNIs – em português) cedeu lugar para UAPs (Unidentified Aerial Phenomena, ou Fenômenos Aéreos Não Identificados – FANIs – em bom lusitano). Curioso que já adotávamos essa sigla, quando ainda era desconhecida, em nossas aulas e oficinas de astrobiologia mais de duas décadas atrás.

            O renascimento da moda de ver coisas estranhas voando pelo céu aconteceu a partir do momento em que o próprio Departamento de Defesa norte-americano admitiu – para delírio dos ufófilos conspiracionistas –  ter alguns registros de objetos aéreos com performances anômalas, sem ter a mínima ideia do que possam ser. Trata-se de observações feitas por pilotos e militares altamente treinados, portanto acima de quaisquer suspeitas de fraudes.

            Seguindo a mesma onda, em outubro de 2022 a agência espacial estadunidense – NASA – criou um grupo de trabalho constituído por cientistas e outras personalidades civis com o intuito de estabelecer diretrizes para futuros estudos que possam vir a contribuir para o esclarecimento da natureza dos FANIs. E tomou a iniciativa de substituir a palavra Aerial por Anomalous, o que endossamos, por ser mais generalista e abrangente.

            O assunto também foi pauta recente numa reunião do senado norte-americano. Qualquer semelhança com a quixotesca sessão especial do senado brasileiro em 24 de Junho de 2022 é mera coincidência. Na audiência realizada em Washington aos 19 de Abril deste ano, o Dr. Sean Kirkpatrick, atual diretor do AARO (All-Domain Anomaly Resolution Office) teve a oportunidade de prestar diversos esclarecimentos. Uma excelente revisão crítica daquele encontro é o texto de Ballester-Olmos (2023, The 2023 U. S. Senate UAP Hearing, 20 pp., PDF disponível em Academia.edu).

Características

            De acordo com Kirkpatrick, 52% dos UAPs oficialmente registrados entre os anos de 1996 e 2023 podem ser descritos como “redondos”, ou seja, esféricos. Discos são raríssimos, apenas 2% das ocorrências. Luzes respondem por 5%. Outras morfologias (por exemplo, oval, cilindros, polígonos, etc) representam cada uma tipicamente entre 1% e 2%.

            As dimensões estimadas são entre 1 e 4 metros. Portanto, a menos que bactérias alienígenas sejam capazes de desenvolver tecnologia, não se trata de espaçonaves extraterrestres…

            E as cores? Predominam o branco, o prateado, e o translúcido. Humm… Redondos, 1 a 4 metros, brancos, translúcidos. Vamos falar francamente: não seriam balões?! Aliás, alguns comprovados balões andaram sendo abatidos nos EUA, no Canadá, e no Japão há poucas semanas, por causa de violações do espaço aeronáutico, e por colocarem em risco as operações de transporte aéreo.

            Bem, dirão os inconformados, não podemos esquecer que alguns UAPs demonstraram possuir capacidades de voar inusitadas, executando manobras invulgares à grandes velocidades. Porém, de acordo com as declarações apresentadas pelo Dr. Kirkpatrick às autoridades políticas, os UAPs com frequência são estacionários, ou então se deslocam com velocidades de até Mach 2 (duas vezes a velocidade do som no ar).

            Querem mais detalhes? Lá vai. Nada menos que 55.7% dos UAPs considerados nas estatísticas do diretor do AARO voam em altitudes entre 20 mil e 25 mil pés, embora tenham sido registrados em menor número desde 5 mil até 60 mil pés.

            O seu mecanismo de propulsão ainda é um mistério: eles não exibem sinais detectáveis da presença de exaustão térmica. Ademais, são registrados intermitentemente por radares, e tem sido avistados apenas em regiões geográficas específicas: costa oeste norte-americana, costa leste, no Hawai’i, no Oriente Médio, na costa africana ocidental (próximo ao litoral da Costa do Marfim, de Gana, e da Nigéria), além da China e do Japão. Não há registros de UAPs ao sul da linha do equador. Acham-se restritos ao hemisfério norte.

Investigações

            Do Projeto Blue Book ao AARO, do Relatório Condon da Universidade do Colorado à nova iniciativa da NASA, dos UFOs aos UAPs, novas respostas para antigas perguntas continuam a ser procuradas.

            Mas agora nem os militares, nem as autoridades civis, e os cientistas envolvidos nestes novos estudos oficiais esperam encontrar evidências de que UAPs sejam de origem extraterrestre. Pelo lado estratégico, o Departamento de Defesa quer identificar a procedência destes artefatos. Seriam russos, chineses, ou de outra(s) nacionalidade(s)? Respostas precisam ser encontradas para acabar com os vexames da ignorância e da fragilidade do sistema vigente responsável pela proteção do espaço aéreo.

            E pelo lado científico civil, os objetivos também incluem a identificação de fenômenos possivelmente naturais de características anômalas e a proposição de modelos teóricos que permitam explicá-los. E tenham certeza de uma coisa: fenômenos estranhos existem, e aos montes. Uma maneira de se convencer disso é examinar a incrível coleção de volumes monumentais sobre fenômenos incomuns, muitos ainda mal compreendidos, compilados pelo físico e escritor norte-americano William R. Corliss (1926 – 2011). O conjunto catalogado de anomalias geofísicas, eletromagnéticas, ópticas, acústicas, e até mesmo biológicas é impressionante, e parece não ter fim.

Experiências Pessoais

            Vou terminar estas linhas apresentando duas das melhores imagens recentes de supostos FANI’s que já obtive até hoje. A primeira foi capturada numa noite escura, fria e de céu estrelado, em Mai. 17, 2023, às 00:42 TU,  aqui mesmo em Tranquility Base, minha residência rural no sul do Brasil. Vejam a Figura 1. Na Figura 2 temos uma provável esquadrilha surpreendida em pleno voo. A imagem foi obtida em Mai. 30, 2023, às 21:36 TU, durante o período crepuscular.

Figura 1
Figura 2

            Intrigantes, não? A imagem da Figura 1, obtida com zoom através da câmera do meu smartphone não retrata nada mais além do festival de poluição luminosa promovido por um aglomerado de luzes artificiais instaladas pelo meu vizinho mais próximo.  E a que aparece na Figura 2 não passa de um pequeno aglomerado de brasas vermelhas minúsculas, imageadas com zoom nos restos de uma fogueira. Ambas as imagens foram retocadas com a ajuda do aplicativo Photoshop Express. Caso estes detalhes não fossem revelados, as imagens poderiam perfeitamente se juntar a milhões de outras sem explicação que andam por aí mundo afora, querendo sustentar a validade da hipótese extraterrestre…

            Observo o céu desde 1973. Sistematicamente. E neste meio século nunca vi nada de realmente estranho. Bem, para falar a verdade, houve duas oportunidades que me surpreenderam. Mas consegui determinar do que se tratava. Já prometi, e um dia vou cumprir. Contarei tudo numa das próximas edições da coluna Túnel do Tempo – Memórias de um Astrônomo, lá no Portal Ciência & Cosmos, no site da Rede Omega Centauri, que agora está oferecendo conteúdos exclusivos para assinantes. Ficaram curiosos? Então assinem logo, para não perderem nada e, ao mesmo tempo, prestigiarem nosso trabalho!

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* Luiz Augusto L. da Silva preside a Associação para Investigação de Fenômenos Incomuns – AIFI – uma organização civil de ceticismo científico destinada ao estudo e esclarecimento de fenômenos estranhos constituída em 2006.

20230709

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